Adentrando na Economia Comportamental

Adentrando na Economia Comportamental

Alan Ferreira dos Santos Alan Ferreira dos Santos
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Adentrando na Economia Comportamental

A Economia Comportamental é marcada, dentre outras coisas, pela junção da seara atinente à psicologia e suas descobertas e da seara econômica a fim de possibilitar uma aferição mais concreta dos fatores de influência sobre o comportamento econômico dos indivíduos. Além de compreender e constatar a forte influência das emoções em si na composição e na tomada de decisão dos indivíduos no que tange à seara econômica, ou seja, o manuseio dos seus recursos financeiro, sinaliza que tal impacto é passível de ocorrer tanto de forma consciente quanto subconsciente.

Essa disciplina que pode ser considerada uma subdisciplina das ciências do comportamento e da economia acaba expandindo o entendimento, outrora delimitado e imputável à teoria neoclássica econômica, de que as decisões no campo econômico são sempre tomadas de maneira racional. Desse modo, sugere que tais decisões podem ser psicologicamente e emocionalmente influenciadas, ainda que conscientemente ou inconscientemente.
    

Por outro lado, a economia tradicional, ao se apoiar na ideia de indivíduo racional e ponderado, capaz de tomar decisões econômicas de maneira sempre contemplativa à racionalidade e à ponderação, ignora o fator emocional e a sua incidência sobre o comportamento humano, de modo a conceber, portanto, a racionalidade humana como neutra às influências emocionais. A limitação da racionalidade sustentada pela economia tradicional encontra limitações quando incorporado e demonstrado que aquela racionalidade, outrora tida como ilimitada, tem nos fatores cognitivos, emocionais, culturais e sociais envolvidos em sua determinação. Ao ignorar, em seu estudo, as questões subjetivas de cada indivíduo, como as emoções, limitando-se tão somente à observação da escolha dos indivíduos e, portanto, ao comportamento, o objeto de estudo da teoria econômica tradicional reveste-se de um caráter estritamente objetivo. É importante asseverar que apesar das diferenças envolvendo as vertentes – Economia comportamental, economia neoclássica e tradicional – todas admitem a capacidade de decisões racionais, divergindo tão somente nos limites dessa capacidade.       

Economia Comportamental

Frequentemente é possível observar situações em que o ser humano, deixando de buscar maiores informações sobre determinada situação, toma decisões baseadas em seu interesse (satisfação pessoal). Ou seja, além de o indivíduo possuir uma capacidade de raciocínio limitada, há situações em que, deliberadamente, ele deixa de buscar maior aprofundamento racional (otimização) sobre sua decisão em questão e decide em prol de sua satisfação, mesmo que seja irracional.

Já foi muito dito sobre conceito de “Homo Economicus” que se ampara na ideia delimitada pela economia tradicional de que o homem é um ser racional, e que tal racionalidade sempre o acompanha em sua tomada de decisões.

Segundo Daniel Kahneman (2012), diferentemente do mesmo peso dado pela teoria tradicionalista no que tange o impacto das chances de perda ou ganho no comportamento do indivíduo, a possibilidade de perda possui impacto muito maior nas decisões financeiras do ser humano. Reconhece que os fatores emocionais, culturais, sociais e cognitivos podem influenciar de maneira inconsciente à tomada de decisão do indivíduo.

Sobre o início dessa disciplina temos como um dos inauguradores Veblen (1988) que foi um economista e sociólogo. O fato de deter conhecimento em ambas disciplinas o permitiu conceber e compreender as instituições sociais. Com base nesse conhecimento das instituições, chegou à conclusão de que o dinheiro era em si uma instituição social e que fora criada como uma forma de necessidade psicológica do homem. Essa reflexão inauguraria a intersecção entre os campos de saber da economia e psicologia.

Podemos dizer que toda ciência em seu início carrega um conjunto de termos para definir a disciplina até que chegue em um consenso. A economia comportamental é como se fosse um termo gerado a partir de consenso para constituir a formulação desse campo. Aqui no caso temos o conceito de psicologia econômica que foi muito utilizado para determinar a ciência dos aspectos psicológicos envolvidos na conduta de consumo. As ciências naturais tiveram um relativo sucesso no desenvolvimento de um conhecimento preditivo. A economia necessitou incluir novas variáveis para a compreensão do comportamento de consumo. Nesse sentido, o homem por estar no interior e se desenvolver na cultura e em sociedade, além deter uma psicologia complexa que influencia o seu comportamento, percebeu-se que compreender as bases psicológicas das tomadas de decisão poderia aumentar o poder preditivo postulado pelas concepções econômicas.

Um exemplo dessa dinâmica e complexa interação comportamento-economia é que ao mesmo tempo que o indivíduo atua sobre o mercado e o tem como objeto de estudo, o indivíduo é parte do mercado haja vista sua condição de agente econômico. Assim como o pesquisador nas ciências humanas é o próprio objeto de estudo, sua conclusão será influenciada por seus aspectos subjetivos, o que não é diferente com o indivíduo (agente econômico) e sua atuação no mercado. Isso mostra a necessidade de incluirmos cada vez mais variáveis que nos permitam predizer os acontecimentos desse campo com base nelas.

Dr. Alan Ferreira dos Santos é o professor do curso de Economia Comportamental da PCBSCampus, e o conteúdo do curso pode ser consultado aqui.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Objetiva, 2012.

VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa: um estudo econômico das instituições. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

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